Um bom gestor deve estimular os seus hormônios (certos)
A minha esposa é biomédica e por isso, além de gostar muito das ciências biológicas, sempre conversamos sobre questões relacionadas aos sistemas do corpo, sobre a relevância do genótipo e como somos regulados por sistemas internos que possuem interface com o ambiente externo.
Nesse sentido, é impossível não se deparar com o fantástico mundo dos hormônios e realizar algumas conexões com o mundo dos negócios. Afinal, podemos aprender muito observando a natureza, os animais e o nosso corpo. Entendo, porém, que esse assunto não se encerre nesse único artigo dado seu potencial.
Hormônios são substâncias químicas produzidas por glândulas do sistema endócrino ou por neurônios especializados. São de extrema importância para o controle do funcionamento do corpo humano. Vários hormônios são produzidos em nosso corpo, sendo que cada um possui um efeito específico.
Para iniciar a conexão entre gestão e hormônios, vale lembrar que o termo feedback que usamos comumente no mundo dos negócios é o mecanismo de retroalimentação que regula a produção e secreção de hormônios. Ou seja, é um sistema que em pleno funcionamento garante (ou busca) a homeostase (ou equilíbrio dinâmico) do nosso corpo. O feedbackhormonal ocorre constantemente, com um curto tempo de resposta, gerando uma ação objetiva e facilmente verificável em nosso corpo tendo por objetivo o equilíbrio. Bastavam os gestores terem esse conhecimento e realizarem uma boa biomimética para garantirem mais qualidade de vida e melhores resultados aos seus liderados.
Um bom gestor, então, deve atuar como o sistema regulador, atuando ora como gatilho e ora como limitador para garantir equilíbrio, evolução, resultado e felicidade no ambiente de trabalho.
Obviamente os paralelos não param aí. Selecionei o quarteto dos principais hormônios associados aos sentimentos de felicidade para observarmos o perfil dos gestores que alavancam a produção desses hormônios ou a impede. Os chamei então, de gestores hormonais.
Para a gente se sentir feliz é preciso que nosso corpo produza, de forma equilibrada, 4 hormônios principais: dopamina, serotonina, ocitocina e endorfina. E o equilíbrio entre eles, as quantidades de uns em relação a outros, é que vai nos dar uma sensação de maior felicidade, ou de mais cansaço e desânimo, ou de agitação e ansiedade, enfim, sensações que são rotineiras quando estamos estressados.
Gestor Dopamina
A dopamina nos motiva a agir em direção a metas, desejos e necessidades, e nos dá uma onda de prazer quando conseguimos. Procrastinação, autodúvida e falta de entusiasmo estão ligadas a baixos níveis de dopamina. Estudos em ratos mostraram que aqueles com baixos níveis de dopamina sempre optam por uma opção fácil de alimentação, e muitas vezes de menores quantidades; aqueles com níveis mais altos faziam o esforço necessário para receber o dobro da quantidade de alimento.
Em suma, o gestor dopamina é aquele que possui a capacidade de engajar sua equipe com as metas e construir um sentido ou propósito para elas. Para tanto, possui transparência na comunicação, é assertivo e inspirador. Além disso, garante segmento dos objetivos de longo prazo através do acompanhamento de metas parciais mais curtas.
Gestor Serotonina
Serotonina flui quando você se sente importante. Solidão e depressão aparecem quando a serotonina está ausente. É uma das razões pelas quais as pessoas se juntam a gangues e atividades criminosas. Essas práticas facilitam a liberação de serotonina. Barry Jacobs, neurocientista de Princeton explica que a maioria dos antidepressivos concentram-se na produção de serotonina.
O gestor serotonina é aquele que possui a capacidade de dar autonomia para sua equipe permitindo e garantindo o protagonismo dos envolvidos. Para tanto, precisa saber gerenciar os egos construindo uma sistemática clara para reconhecimento e recompensa. É o gestor que não só permite mas como possibilita que seus funcionários brilhem, se desenvolvam, se destaquem e tenham a confiança construída.
Gestor Ocitocina
A ocitocina cria intimidade, confiança e constrói relacionamentos saudáveis. É liberada por homens e mulheres durante o orgasmo, e pelas mães durante o parto e amamentação. Animais irão rejeitar sua prole se a liberação de ocitocina for bloqueada. A ocitocina aumenta a fidelidade. O cultivo de ocitocina é essencial para a criação de laços fortes e melhores interações sociais.
O gestor ocitocina é relacional, gera engajamento e constrói relacionamentos não só profissionais, mas também conecta seus funcionários em uma comunidade além do espaço de trabalho. É aquele que possui a capacidade de dar segurança para sua equipe permitindo uma comunicação constante e um ambiente livre de julgamentos.
Gestor Endorfina
As endorfinas são liberadas em resposta à dor e ao stress, e ajudam a aliviar a ansiedade e depressão. Semelhante à morfina, a endorfina age como um analgésico e sedativo, diminuindo a nossa percepção da dor. Junto com o exercício regular, o riso é uma das maneiras mais fáceis de induzir a liberação de endorfina. Mesmo a antecipação e expectativa de riso, por exemplo assistir a um show de comédia, aumenta os níveis de endorfinas.
O gestor endorfina desafia sua equipe, gerando engajamento através da confiança nas pessoas e no reforço constante da importância nos resultados. É aquele gestor que permite que as pessoas acreditem que é possível através do alto grau de energia de seus discursos e do exemplo empreendedor.
Vale lembrar também que as faltas ou os excessos dos quatro perfis gestores hormonais acima podem produzir um outro tipo de hormônio, o cortisol.
Gestor Cortisol
O cortisol é um hormônio que age como neurotransmissor em nosso cérebro. Considerado pela comunidade científica o hormônio do estresse, nosso corpo o produz diante de situações de tensão para nos ajudar a enfrentá-las. A liberação deste hormônio é controlada pelo hipotálamo, em resposta a situações estressantes e a um nível baixo de glicocorticoides no sangue.
O estresse é um estado emocional que gera tensão física. Ele pode provir de qualquer situação ou pensamento que faça com que nos sintamos frustrados, furiosos ou nervosos. Em pequenas doses o estresse pode ser positivo, como quando nos ajuda a evitar um perigo ou a cumprir nossos objetivos. No entanto, quando o estresse passa de uma emoção pontual para ser uma emoção recorrente ou um estado emocional crônico, pode prejudicar a saúde.
O gestor cortisol é aquele que não queremos ser: cria um ambiente excessivamente permissivo ou excessivamente desafiador. Não garante autonomia, reconhecimento, importância ou engajamento dos seus funcionários. É o gestor que não lidera, que não inspira e que é prejudicial à saúde (nossa e das empresas).
Com isso, convido fazermos uma avaliação do perfil gestor (nosso e dos nossos líderes) entendendo que somos protagonistas na produção de hormônios que podem ser benéficos (ou nem tanto) em função da quantidade e qualidade em que ocorrem.