
Nem toda grande empresa deveria agir como uma Startup
É fácil imaginarmos que as empresas com maior maturidade digital (ou até mesmo que nasceram digitais) são aquelas com maior propensão à inovação por serem mais experimentais. Por serem mais digitais, possuem infraestrutura ágil, maior disponibilidade de dados e estrutura organizacional orientada a projetos. Ou seja, é fácil imaginarmos que para que uma empresa inove ela precisa ser digital. Em partes, isso é um viés de confirmação.
Como as empresas digitais inovam mais, ser digital deveria ser condição necessária para inovação. Além disso, expandindo essa visão, agir como uma Startup deveria ser condição necessária para inovação. Isso nem sempre é verdade e tão pouco sempre é possível. Não se trata de agir como uma Startup e sim, antes, pensar como uma.
Quando as grandes empresas (dinossauros e não unicórnios) estão passando pela transformação digital, elas tendem a mimetizar o pensamento das Startups na organização dos seus espaços e times que conduzem as iniciativas. No entanto, esquecem que o valor das Startups não reside somente na sua capacidade de gerar novas ideias. O fator chave é, na verdade, a disciplina para equilibrar descoberta e execução de maneira disciplinada e rigorosa, passando pela constância de propósito e o desdobramento estratégico das iniciativas.
Em termos práticos, grandes empresas que não necessariamente são digitais dispõe de quantidade igual o maior de informações acerca de suas transações, negociações, desenvolvimentos e da necessidade de seus clientes. O gargalo (nem sempre) é a digitalização ou a disposição de dados. E mesmo assim, não inovam.
A grande questão é como a empresa se organiza acerca de propósitos comuns e, a partir disso, toma atitudes de uma empresa que quer crescer exponencialmente. Se as iniciativas não possuem uma orientação, escalar irá transformar sua empresa em uma Quimera. A gestão de riscos e a gestão da mudança, nesse cenário, se torna exponencialmente complexa, o que retarda muitas vezes o processo de inovação pela simples dissonância entre iniciativas e áreas.
Adicionalmente, muitas empresas colocam a transformação digital prioritariamente como um pilar de redução de custos e otimização de processos, e não como vetor da inovação. Neste cenário, boa parte dos colaboradores são meros expectadores da transformação digital, rezando para não serem arrebatados por sua foice.
Para inovar, podemos pensar em um modelo que explica uma explosão, dependendo fundamentalmente de três fatores: Combustível, Comburente e Calor. De maneira similar, para ocorrer um processo inovador são necessários também três elementos: ambiente inovador, que age como o comburente, alimentando e permitindo que a Inovação ocorra; capacidade interna da empresa, que age como o combustível, propagando a reação; e ideia inovadora que age como a faísca, dando início ao processo.
Agir como uma Startup sem pensar como uma ou assumir que a digitalização é condição necessária para a inovação é procrastinar ainda mais a mudança radical que já poderia ter sido realizada e que não ocorreu simplesmente por falta de propósito.