
Você sabe o que significa FoMo?
É aquele medo ou sentimento de estar perdendo algo. E precisamos falar sobre isso.
Checar o Facebook a cada cinco minutos, ir a um evento pensando nos posts para o Instagram, rolar a timeline do Twitter até que não tenham mais novidades. Ou ainda sentir ansiedade ao ficar algum tempo sem responder os grupos de Whatsapp ou ler os artigos de seu guru no LinkedIn. Se você reconhece os sintomas, isso pode ser sinal de FoMO. A sigla para “Fear of Missing Out”, ou medo de estar perdendo algo, em português.
A ironia deste artigo é a sua metalinguagem. Encontrei o termo FoMO enquanto navegava sem direção ou objetivo nas redes sociais. De tal modo, tive um estalo (ou levei um soco – tanto faz) e percebi que isso poderia ser um problema, mas será?
O FoMO foi citado pela primeira vez em 2000 por Dan Herman e definido anos depois por Andrew Przybylski e Patrick McGinnis como o medo de que outras pessoas tenham boas experiências que você não tem. Além disso, o receio incentiva a ficar sempre conectado para saber de tudo e compartilhar novidades com os outros. Ao criar o medo de perder algo no ambiente online passamos a sentir a necessidade de sempre atualizar e verificar as redes sociais para ficar ciente do que os outros estão fazendo. De acordo com estudos psiquiátricos, essa angústia social é causada principalmente porque a relação dos usuários com a tecnologia ainda é muito nova e imatura. Ostentações feitas em redes sociais, onde a maioria costuma publicar momentos de alegria e realização, e a publicidade que insere slogans como “você não pode perder” também podem incentivar reações como o FoMO.
Que fique claro – não vou bancar o psicólogo ou neurocientista. Só achei importante escrever sobre esse tema pois isso afeta diretamente a nossa (e a minha) produtividade e potencialmente a produtividade de toda sua equipe ou empresa. Vale ficar atento.
“Mas será que esse é um comportamento suficientemente disfuncional?”, me pergunto. “E, mesmo que o fenômeno estiver causando problemas, será que não é a boa e velha autocobrança e senso de comparação aplicado ao mundo digital?” A resposta é sim e não.
Poderia ser tão simples quanto um sistema de comparação e recompensas mas o que muda é a escala dos estímulos. O volume de informações recebidas por diferentes fontes e caminhos é descomunal. Além disso, essas informações geram alertas e criam a sensação de abandono ou atraso (por curiosidade – quantos e-mails estão na sua Caixa de Entrada e quantas mensagens ainda não foram lidas no grupo da família?).
E isso extrapola para o mundo real: As pessoas comentam e conversam pessoalmente sobre temas totalmente relacionados ao ambiente digital tais como vídeos, memes e o novo app revolucionário – aumentando assim o medo de não fazer parte.
Em muitos casos, indivíduos com FoMO ficam mais distraídos, seja ao conversar pessoalmente com alguém em casa, durante as aulas e em reuniões. Ou, ainda mais grave, ao utilizar o celular enquanto dirige para não perder nenhuma novidade e registrar Stories e “snaps” no volante. Ao longo do tempo, a pessoa com o problema passa a apresentar mau humor, ansiedade, stress, tédio e solidão. Em casos intensos, o medo pode causar depressão.
A saber, sou uma pessoa extremamente conectada e consciente do tempo que dedico às redes sociais, curadoria de notícias e conversas de trabalho (ou não). Mesmo assim, percebo que é cada vez mais difícil processar todas as informações com qualidade e controlar o tempo dedicado a cada atividade.
No limite, entendo que um pouco de FoMO deve ser saudável no sentido de gerar interesse e mobilização para conteúdos relevantes. Em contrapartida, esse medo e essa sensação podem ocorrer para conteúdos não relevantes – daí o perigo.
Felizmente esse não é meu caso (ainda). O meu filtro de entrada garante minimamente que eu me concentre nos assuntos que julgo relevantes e que geram algum nível de apropriação de conhecimento e entrega. Mas no limite, essa é uma avaliação subjetiva.
O lado bom dessa história, e de eu ter encontrado esse artigo nas minhas andanças pela internet é que foi possível desenvolver maior nível de consciência sobre o tema, lembrando que na maioria das vezes em que estamos online, o que vemos ali é nada mais do que uma curadoria dos momentos mais felizes das pessoas, e não um retrato fiel da realidade. Isso é óbvio – eu sei. Mas precisamos firmemente programar o cérebro (ou perceber a fonte da dor) e não sentir aquela sensação ruim, mesmo que pequena, de pensar “só eu não estou em Noronha” ou “estou desatualizado das novidades da Feira de Tecnologia de Hamburgo”. Precisamos entender que o cérebro talvez não esteja preparado para tantos estímulos. Ou que tantos estímulos talvez nem sejam necessários ou gerem valor.
Como para toda tese existe uma antítese, e FoMo é uma dor tipicamente associada àqueles que não nasceram em um mundo digital e estão se adaptando a ele (muito anos 2000) – É possível que você depare com o termo JoMO – Joy Of Missing Out.
Não é o contrário do FoMO e, sim, uma decisão consciente de se afastar um pouco do mundo online para viver a vida real – tipo o que o mindfulness prega, que é a atenção total no que você está vivendo e fazendo naquele momento. O termo está bem descrito e detalhado no livro The Joy of Missing Out: Finding Balance in a Wired World da canadense Christina Crook. A ideia não é simplesmente abandonar todas as redes sociais, e sim encontrar seu próprio equilíbrio dentro delas. Vale entender, por exemplo, o que você está de fato fazendo ali. Buscando notícias? Tentando descobrir as novidades do seu ídolo? Caçando referências de moda para escolher o look de um evento especial? Até aí, OK. O problema – olhando do meu ponto de vista – é quando estamos apenas rolando a timeline, sem objetivo nenhum e, quando “voltamos” ao real, percebemos que se passaram minutos e minutos. Muitos deles.
Aqueles minutos que, inclusive, sentiremos falta no final do dia, quando vamos dormir tarde porque não conseguimos dar conta de todas nossas tarefas. E, pior: você pode perceber que viveu mais a vida dos outros do que a sua própria.]
Não há dúvida de que a tecnologia invadiu nossas vidas. Nas últimas décadas, o mundo abraçou o “progresso” e estamos vivendo em um mundo mais tomado pela ansiedade. Mas uma reação criativa está ganhando força, ajudando-nos a lidar com a avalanche de dados que ameaça nos sobrecarregar diariamente com nossos computadores, tablets e smartphones. A maioria de nós não pode jogar fora o nosso smartphone ou nos desconectar da internet (pelo menos não na prática) . Mas todos podemos repensar nosso relacionamento com o mundo digital, descobrindo novas formas de introduzir equilíbrio e disciplina no papel da tecnologia em nossas vidas.
Consciência e controle – esse foi meu estalo 😉