
O uso do FMEA nos Processos Logísticos

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Neste artigo vou abordar um assunto que está em alta na indústria de um modo geral. A análise de risco agora é uma necessidade real expressa nas normas de gestão ISO 9001 e IATF 16949, porém já era uma abordagem mandatória no MMOG/LE V4 – Global Materials Management Operations Guidelines / Logistics Evaluations.
O que é o risco?
O risco pode ser definido como a incerteza do resultado. Caso o resultado seja positivo, tem-se uma oportunidade e pode-se agregar o ganho. Se o resultado for negativo, tem-se uma ameaça, que, neste caso, deverá ser tratada. (HM Treasury, 2004).
Conceito de gerenciamento de riscos
O risco na cadeia de suprimentos é qualquer ameaça de interrupção do funcionamento da cadeia. O risco pode ser gerado como resultado de condutores de risco, que são internos ou externos à empresa. Os fatores externos são as áreas de risco que são mais comumente pensadas pelos gestores. Exatamente pela razão de serem externos e, portanto, podem ser entendidos como incontroláveis. Os riscos de imprevisibilidade da demanda, de fornecimento confiável, os efeitos dos choques externos no negócio, o ambiente social e climático, são todas as áreas que usamos como bodes expiatórios para resultados inesperados. Os condutores internos de processo, controle e mitigação/contingência são os que mais firmemente estão sob a direção da própria empresa e, portanto, sendo os menos óbvios e, assim, fontes de vulnerabilidade. (Cranfield, Op.Cit).
Quais são os potenciais riscos do processo logístico?
Há uma série de riscos que pode comprometer todo o processo logístico. Listo abaixo alguns exemplos de riscos potenciais:
• Interrupção na cadeia de suprimentos;
• Atrasos;
• Roubo de carga;
• Não envio de ASN;
• Acidente durante o transporte;
• Desastres naturais,
• Etc.
Contingência
Uma contingência trata-se de algo que pode acontecer, ou algo que não sabemos se pode acontecer: uma eventualidade, possibilidade, ocorrência, evento. Em teoria, para caracterizar contingência tudo depende ou é relativo, variando de condições do ambiente e das técnicas administrativas apropriadas para o alcance eficaz dos objetivos da organização.
A Aplicação do termo ‘contingência’ na Logística surge nos planejamentos da cadeia de suprimentos como: ‘tudo o que pode dar errado, provavelmente vai dar’. Por exemplo: desastres naturais, instabilidade política e o mais comum, infraestrutura precária. Nestes casos, a logística de contingência surge como estratégia ou alternativa, quando um ou mais modais precisam ser redimensionados para atender outro elo da cadeia de suprimentos ou até o cliente final.
Na visão de um gestor logístico, os planos de contingência são importantes para prevenção de riscos de interrupções na cadeia de suprimentos. Uma mercadoria em trânsito poderá sofrer influência de eventos do ambiente externo, dessa forma o atendimento efetivo precisa ser assegurado de alguma forma.
Ao seguir uma ordem para o planejamento da Logística de Contingência, a organização deve determinar um gerente de crises, que terá a autoridade nas tomadas de decisões nas situações indesejadas. Tal profissional definirá as causas possíveis de interrupções na cadeia de suprimentos, levando em consideração fatores do ambiente interno e externo (desastres, ataques, acidentes, falta de energia, falha em sistema, greves ou qualquer outro evento que afete as atividades logísticas), criando um planejamento formal.
O gestor poderá criar simulações e treinar periodicamente sua equipe, isto abrirá espaço para diversas viabilidades e até reformulações. Assim, nos casos de necessidade de execução do plano, os impactos poderão ser amenizados.
Nos casos de emergência, o plano deve ser colocado em prática sob a responsabilidade do gerente de crises, ou gestor da área.
A Logística de Contingência é usual e necessária para o gerenciamento de crises, sendo imprescindível que as organizações se preocupem em planejá-la, evitando que de uma hora para outra as coisas ‘pareçam estar em pleno caos’.
O que é FMEA?
O FMEA (Análise de Modo e Efeitos de Falha Potencial) é uma ferramenta que utiliza um método sistemático para identificar problemas potenciais, suas causas e efeitos, com a ajuda do trabalho em equipe.
LFMEA x Contingência, como eles se relacionam?
O LFMEA é o início para estabelecermos a contingência. A partir dele identificamos todos os potenciais riscos que poderão impactar o abastecimento junto aos clientes. Tendo a visão do risco potencial e considerando o trabalho em equipe, a organização poderá estabelecer alternativas para que o cliente tenha o menor impacto possível ou de preferência nenhum impacto.

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Por que então o LFMEA – FMEA Logístico?
O FMEA de Processos Logísticos está alinhado com o MMOG/LE V4 no que tange a avaliação e gestão dos riscos e a gestão dos planos de contingência. É a aplicação da metodologia analítica do FMEA aos Processos Logísticos. O foco é garantir que os problemas potenciais sejam considerados e abordados visando à garantia da programação de produção, do armazenamento, da expedição, da entrega de produtos no prazo, no local e na quantidade correta bem como a integridade física dos produtos.
Aplicando o LFMEA – FMEA Logístico
Assim como qualquer FMEA, sempre serão necessários dados de entrada. No caso do LFMEA será necessário um fluxograma detalhado de todo processo logístico, ou seja, do planejamento até a entrega do produto ao cliente. Alguém já imaginou uma parada de linha da montadora em função da não entrega de peças e ao analisar a causa raiz verificou-se que a carga não foi entregue no prazo devido o motorista ter sido barrado em uma blitz policial por não ser/estar portando a CNH – Carteira Nacional de Habilitação? Pois então, esse tipo de questão poderá ser tratada no LFMEA e certamente irá eliminar o risco de uma parada de linha devido a este modo de falha. Este é apenas um exemplo de aplicação do LFMEA, há muitas outras situações de risco que muitas organizações não visualizam e provocam desconforto aos clientes e custos em função das falhas dos processos logísticos.
MMOG/LE V4
O Global MMOG/LE V4 é um esforço cooperativo entre a AIAG (Automotive Industry Action Group) e Odette (Organisation for Data Exchange by Tele-Transmission in Europe) para desenvolver um único Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain Management) que pode ser usado globalmente.
Requisitos do MMOG/LE V4
O capítulo 2 do MMOG/LE V4 estabelece que deve existir um processo de avaliação de risco para identificar áreas dentro do processo da cadeia de suprimentos que possam afetar a capacidade de atender aos requisitos do cliente em caso de desvio do processo logístico. Devem ser incluídos na análise de riscos, o EDI – Electronic Data Interchange, transporte, embalagem, falha de equipamento, etc.
Ainda o capítulo 2 do MMOG/LE V4 estabelece que deve haver um plano de contingência para tratar os riscos que foram previamente levantados durante a avaliação dos riscos.
O FMEA Logístico será de extrema importância para unir a análise de risco e o plano de contingência. Pois, será a ferramenta principal para fazer o levantamento dos riscos potenciais e recomendar ações para eliminação ou minimização destes riscos.
Referências
– Global MMOG/LE – Global Materials Management Operations Guidelines / Logistics Evaluations Versão 4.
– Manual AIAG – FMEA 4ª Edição, junho de 2008.
– http://www.tecnologistica.com.br
– http://go.qad.com/Automotive-Risks.html
– https://pensecomunique.wordpress.com/2013/04/10/a-importancia-da-logistica-de-contingencia-em-situacoes-de-crise/