Faltam empregos ou empregados no Brasil?
A América Latina e em especial o Brasil vem sofrendo com a retração da economia e o desemprego o que deveria estar relacionado somente com a escassez de oportunidades de trabalho, porém muitas empresas ainda não conseguem encontrar os trabalhadores qualificados de que precisam.
A América Latina enfrenta uma grave escassez de competências. Cerca de 50% das empresas latino-americanas formais não conseguem encontrar candidatos com as competências de que necessitam, em comparação com 36% das empresas dos países da OCDE, de acordo com a Manpower. Esta é uma questão particularmente premente no Peru, no Brasil e no México.
Além disso, os setores com maior déficit de competências são aqueles mais associados ao desenvolvimento e a modernização industrial, como veículos e máquinas avançadas.
A América Latina tem a maior escassez de mão-de-obra na economia formal, dois em cada cinco jovens não estão nem estudando nem trabalhando, e 55% dos trabalhadores da região trabalham na economia informal. Trabalhadores claramente não têm as habilidades que as empresas precisam, e as empresas estão tendo muita dificuldade em encontrar o talento que necessitam para crescer seus negócios.
Resolver este problema de competências exige uma reforma política ousada. A ampliação da cobertura educacional não é suficiente; Em vez disso, os formuladores de políticas públicas também devem se concentrar em elevar a qualidade da educação. Ou seja, mais pessoas estudando com maior qualidade de ensino.
Também igualmente importante, é a necessidade de melhorar a relevância dos currículos de pessoas que já deveriam estar no mercado de trabalho através de cursos de menor duração que focam na formação de habilidades e competências.
As reformas devem visar não só as competências da população em idade escolar, mas também as competências da mão de obra. São as habilidades daqueles que estão na força de trabalho hoje que impulsionará as economias nos próximos 30 anos. Isto implica investir em sistemas de formação mais eficazes e relevantes e adaptar a educação formal às necessidades das pessoas que trabalham. Isso inclui, por exemplo, tornar a educação mais modular ou ampliar o alcance da aprendizagem baseada no trabalho para que as pessoas possam obter certificações durante o trabalho.
Para atingir esses objetivos, os governos precisam investir em capacidades para antecipar as necessidades de habilidades e detectar desajustes de habilidades. Eles também precisam envolver os empregadores em sistemas de desenvolvimento de habilidades. Estas estratégias ajudarão a tornar possível que a educação, particularmente a educação técnica, e os sistemas de formação se sintam mais adaptados às necessidades de competências dos empregadores. Além disso, devem ser implantados mecanismos de avaliação rigorosos para identificar o que funciona melhor para as empresas e para os trabalhadores, particularmente em termos de qualidade dos rendimentos e segurança do mercado de trabalho.
Exemplos de tais movimentos já podem ser vistos na região. Vários países – como Chile e Brasil – estão começando a investir em sistemas de informação de trabalho para detectar e antecipar a escassez de habilidades. Algumas indústrias estão criando conselhos de habilidades setoriais para identificar os comportamentos e competências que são necessários para os trabalhadores em diferentes papéis e em diferentes níveis de complexidade. Isto está ocorrendo no Chile, por exemplo, no conselho de mineração de habilidades e no cluster de vinho.
Vários países também estão começando a experimentar aprendizes e modelos de educação dupla, com o forte apoio dos empregadores, proporcionando às pessoas um trabalho e um caminho para a aprendizagem e certificação. Exemplos incluem o modelo de educação dupla no México, o próximo programa de aprendizagem nas Bahamas e as iniciativas que estão sendo desenvolvidas pela Rede Global de Aprendizagem.
Em suma, não se trata somente do desemprego, mas de uma mudança do perfil de demanda de emprego e do legado de não capacitação e inovação educacional. O mercado é mais rápido que os governos e, apesar dos esforços recentes, temos um grande desafio para os próximos anos em termos de capacitação e melhoria do perfil dos currículos.