
Explicando a lei de little com séries
Vi com minha esposa o último episódio de Game of Thrones, essa série mesmo que você pensou, dragão, magia, morte, e uma surpresa nova a cada piscar de olhos, e depois disso demos um tempo nas séries, passamos a ver mais filmes e documentários pois ia ser difícil uma série ser tão boa quanto.
O problema surgiu quando começamos a falar com os amigos em um bar sobre as benditas séries que eles estavam vendo, e percebemos que possuíamos duas opções:
– Aceitar o assunto e consequentemente os possíveis spoilers, mas ser parte passiva da conversa pois não estávamos acompanhando nenhuma série.
– Fazer uma lista de tudo que perdemos ou o que estão falando e começar a ver.
Escolhemos a segunda opção, ou seja, ver todas as séries que nossos amigos comentavam que eram consideradas no mínimo “boazinha”.
Nós conseguimos ver em média um episódio por dia, confesso que tem dias que vemos cinco episódios de uma vez e acabamos com a pipoca que temos em casa, mas em geral temos a capacidade de em uma semana ver um episódio em cada dia, no mês são 30 episódios.
Nossos amigos cinéfilos nos sugeriram aproximadamente umas 10 séries para ver, para poder começar a nos inteirar mais resolvemos ver um episódio de cada série a cada dia.
Para nossa surpresa, o resultado não foi o esperado! Nossos amigos sempre estavam na nossa frente, sempre já haviam visto, e eu ficava imaginando se essas pessoas não faziam nada da vida além de assistir séries. Além de não conseguir ter o mesmo ritmo, sempre esquecíamos o último episódio da série que íamos ver no dia e tínhamos que ver algumas partes novamente para pegar o fio da meada.
Até o dia que escutei uma frase que mudou esse cenário: PARE DE COMEÇAR E COMECE A TERMINAR.
Combinei com minha esposa de ver só uma série e uma série apenas, sem aumentar um minuto de séries vistas durante o mês começamos a chegar onde nossos amigos estavam em pouco tempo e até mesmo ultrapassá-los a ponto de eles perguntarem se nós deixávamos de dormir para assistir séries!
Esse fenômeno pode ser explicado por algo chamado lei de little, algo com aplicabilidade extremamente atual, mas que foi publicada em um artigo, pasmem, na década de 60 por John Little.
O que o artigo fala?
O número de episódios que você tem a assistir é igual a taxa de episódios vistos multiplicados pelo tempo médio para ver cada episódio.
Tudo bem, confesso que modifiquei um pouco a frase original: Lei de Little: O número médio de itens de trabalho em um sistema estável é igual à sua taxa de conclusão, multiplicado pelo tempo médio no sistema.
X Tempo no sistema
Quantidade de episódios a serem assistidos = taxa de episódios assistidos por dia X tempo em que um episódio fica esperando para ser assistido.
WIP = quantidade de coisas que temos a fazer
No nosso exemplo das séries: WIP = quantidade de episódios a serem assistidos
Taxa de conclusão = velocidade que conseguimos concluir as coisas a fazer
No nosso exemplo a taxa de conclusão = taxa de episódios assistidos por dia.
Tempo no sistema = lead time! Para o nosso exemplo lead time = tempo que leva entre falarmos que vamos assistir um episódio até realmente conseguirmos assistir aquele episódio.
Agora vamos aos números, mas não se assuste! Como você percebeu, serão contas bem simples!
Meu cenário antes de decidir focar em uma série apenas:
WIPantes = 100 episódios
Estou considerando que uma temporada tem 10 episódios e estávamos vendo 10 série ao mesmo tempo, para simplificar não vamos considerar segundas temporadas.
Taxa de conclusãoantes = 1 episódio/dia
E o tempo médio que demorava para conseguir ver um episódio desde o momento em que decidimos ver aquela série?
Lead timeantes = 100 episódios / 1 episódio/dia
Lead timeantes = 100 dias!!!!!
Ou seja, em média um episódio ficava na minha lista de episódios a ver 100 dias! Mais de 3 meses! Agora fica um pouco mais claro como nunca conseguíamos alcançar o estágio que nossos amigos estavam, uma vez que demorávamos muito para conseguir avançar em uma única série, começávamos muitas ao mesmo tempo e consequentemente não terminávamos nenhuma, com isso demorávamos uma eternidade para ver uma temporada completa e raramente conseguíamos ver uma série que possuía mais que três temporadas.
E o que aconteceu quando mudamos o mindset e começamos a ver apenas uma (PARA DE COMEÇAR E COMEÇE A TERMINAR)
Nossa taxa de conclusão é a mesma, uma vez que continuamos vendo um episódio por dia. Em sistemas estáveis é isso que acontece.
Taxa de conclusãodepois = 1 episódio/dia
Nosso WIP reduziu drasticamente uma vez que focamos em apenas uma temporada (série) por vez.
WIPdepois = 10 episódios
E o que aconteceu com o nosso lead time?
Lead timedepois = 10 episódios / 1 episódio/dia
Lead timedepois = 10 dias!
Ou seja! Passamos a completar uma temporada inteira em 10 dias, do primeiro ao último episódio, antes só conseguíamos ver o último episódio de uma temporada depois de mais de 3 meses que começamos.
Esse é o poder de parar de começar e começar a terminar! Conseguimos terminar as coisas mais rapidamente a partir do momento em que temos menos coisas a serem feitas, e acreditem em mim, o retrabalho reduz e a qualidade final das tarefas/produtos também, foi isso que observamos quando tentávamos ver sem a priorização, tínhamos que rever certos trechos para lembrar em que ponto estávamos. Existe até um método ágil que tem um foco em limitar o WIP (coisas a fazer), identificar gargalos e oportunidades através de métricas do fluxo de trabalho, esse método chama Kanban, isso mesmo com K maiúsculo para poder se diferenciar do kanban do lean. Esse método permite que equipes atinjam patamares de produtividades que antes eram apenas sonhos e que se tornem realmente ágeis pois ele deixa muito claro o que tem que ser feito e onde tem que ser feito, logo a equipe que quer melhorar pode começar a retirar essas barreiras e mudar para melhor.
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