
Artigo – Organizações caórdicas – Caos e Ordem promovendo a inovação

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O modelo das organizações caórdicas é uma forma de entender sistemas, seja um ser vivo, os seres humanos ou uma estrutura social (empresa, comunidade ou sociedade). É também uma forma de entendimento de como o caos e a ordem influenciam os acontecimentos e os resultados. O caminho caórdico também representa uma inspiradora prática de liderança. O conceito foi criado por Dee Hock, fundador e primeiro CEO da Visa Internacional e foi o princípio por trás do crescimento da maior rede de cartões de crédito do mundo.
Mesmo que não seja intuitivo, a mistura de caos e ordem é frequentemente descrita como uma convivência harmoniosa exibindo características de ambos os termos, sem que haja dominância de um ou de outro. A natureza é, em grande parte, organizada de tal maneira: por exemplo, o processo evolutivo pelo qual surge a especialização das espécies – há uma dose de caos e uma dose de ordem praticamente indivisíveis.
Os princípios caórdicos também têm sido usados como diretrizes para a criação e entendimento das organizações. Principalmente no que tange a inovação. Os possíveis sistemas podem ser descritos segundo o diagrama abaixo:
Primeiramente, cabe explicarmos cada um dos termos e suas interfaces. Chamos é o extremo agressivo do caos, dominado pelo ambiente destrutivo e o desmantelamento das estruturas e da organização. O Caos é o espaço criativo da incerteza, onde acontecimentos espontâneos, o improviso e o imprevisível ocorrem. Excelente lugar para o surgimento do novo, porém a falta de pragmatismo impede que haja continuidade e concretização de ações e planos, tornando difícil a estabilidade de formas.
Já a Ordem é o espaço regular da previsibilidade, onde os padrões se repetem. Ótimo para ações práticas, mas o excesso de rigidez pode podar a imaginação e impedir a fertilidade. O Controle é o extremo dominador da ordem, no qual a imposição forçada de conceitos e vontades pré-determinadas paralisa toda a inovação. O espaço mecanizado resultante sufoca a vida. O controle é o paradigma dominante na sociedade atual.
Também é importante entendermos as intersecções entre os diferentes espaços de organização. Ordem-Controle é a intersecção mais comum nos atuais sistemas sociais, com freqüente extrapolação para o controle . Em tempos de estabilidade, é o caminho seguro para se seguir, oferecendo previsibilidade e “mais do mesmo”. Ótima opção para se manter o status-quo, porém, na presença de incerteza e necessidade de inovação, o apego cego a esse caminho pode ser extremamente ineficiente e gerar frustração, paralisando a criação.
Já o Caos-Ordem, o caórdico é quando há caos e ordem simultaneamente, na medida certa, onde a auto-organização emerge. É natural o sentimento no caminho caórdico estar associado a ansiedade, o medo e a insegurança, tanto pessoalmente quanto em grupos. Quando reconhecemos estes sentimentos como nossos amigos (permitindo que continuemos nesse caminho) é que surge a inovação através da interação coletiva.
“Quando tudo está sob controle, é sinal de que não estamos indo rápido o suficiente” – essa frase do piloto de corridas Michael Andretti pode gerar grandes reflexões e servir como um balizador se nós como indivíduos e nossas organizações estão numa condição próxima da caórdica. Com o aumento da complexidade das estruturas sociais para além da capacidade de compreensão individual e os desafios crescentes da nossa sociedades, é importante entender como nutrir o surgimento desses sistemas.
Quando a organização opera no caórdico, é mais natural que as pessoas atuem numa condição chamada de flow. Essa condição proposta por Mihaly Csikszentmihaly define flow como um estado de intensa concentração experimentados quando encontramos o cenário ideal de equilíbrio de desafio e recursos para solucioná-lo.
No modelo tradicional de gestão, seja ele qual for, o máximo que se consegue é que as pessoas façam tudo o que podem, mas não fazem o que devem. Tem-se uma participação burocrática e equivocada. Na proposta caórdica, tudo é problema de todos. O resultado é a potencialização do conhecimento agregado como forma de gerar repertórios inéditos. Gerar a novidade. Em tempos em que se fala de mudança acelerada e constante, essa abordagem é a que tem proporcionado os melhores resultados.
Não existe aprendizado sem aumento da dificuldade e com consequente aumento da ansiedade. O flow acontece entre a ansiedade e o tédio assim como a inovação ocorre entre o caos e a ordem. As organizações que operam no caórdico, através de seus líderes e de suas estruturas, promovem esse equilíbrio dinâmico.
Dessa forma, temos que ser hábeis e estarmos preparados em atuar nesses cenários cada vez mais complexos. Seja pela necessidade de inovação, pela taxa de ocorrência da mudança, pela mudança das estruturas organizacionais. Principalmente, entendendo o caos e a ansiedade como aliados do crescimento e desafiando as estruturas organizacionais anacrônicas, rígidas e verticais que não promovem a liderança situacional e o protagonismo nessas condições. Termino, então, com essa reflexão: