
O Lean Seis Sigma é ideal para a aprendizagem 70:20:10
Totalmente relacionado com a andragogia (educação de adultos), o método 70:20:10 é voltado para a aprendizagem e desenvolvimento nas organizações com foco na aprendizagem pela experiência. Por sua vez, o Lean Seis Sigma é uma metodologia para resolução de problemas complexos, orientada a dados, para tratativa das causas raízes a partir da identificação dos desperdícios e fontes de variação dos processos.
Mas o que significa 70:20:10?
O número 70 significa que 70% do aprendizado de um profissional vem dos desafios rotineiros, das difíceis decisões, da experimentação, repetição e acúmulo de experiência, assim como situações em que o profissional lida com responsabilidades crescentes. Segundo pesquisadores, esses 70% são conhecidos como on-the-job learning, ou seja, aprendizado no trabalho.
Os demais 30% do processo de aprendizagem são distribuídos de tal forma: 20% de aprendizado com os outros (observação e envolvimento com pessoas que podem servir como modelos/exemplos) e 10% de aprendizado através da educação formal (cursos, seminários, workshops e leituras formais).
Como breve retrospectiva, os pesquisadores australianos da Universidade de Deakim apontam as origens deste modelo aos trabalhos do professor canadense Allen Tough, da Universidade de Ontário, que em 1968 publicou seus fundamentos na obra “Why adults learn”. Posteriormente, em 1971, no livro “The Adult’s Learning Project”, ele finalmente estimou que 70% da aprendizagem ocorre fora das estruturas institucionais, 20% é suportado por educadores não profissionais, como supervisores, colegas, parentes e amigos, e 10% é promovido por professores, treinadores e conselheiros.
Lean Seis Sigma como Educação
Quando institucionalizado de forma estratégica, o programa Lean Seis Sigma promove a capacitação da força de trabalho, o acompanhamento durante o ciclo do projeto e a entrega de resultados. Durante esse processo, o participante recebe capacitação formal, participa de workshops colaborativos, do coaching e mentoring além da execução efetiva das medições e análises do seu projeto.
Dessa forma, podemos quantificar as horas trabalhadas por um Black Belt em formação, por exemplo, da seguinte forma ao longo de uma onda de aproximadamente 12 meses:
70% : Tempo dedicado para a execução do projeto (esforço individual) e suporte aos projetos Green Belt ~ 560 horas;
20%: Participando dos workshops colaborativos (equipes e grupos trocam experiências), sessões de mentoring e coaching, tollgates e grupos de discussão e treinamentos entre pares ~ 160 horas.
10%: Em capacitação formal (treinamento) ~ 80 horas.
Pontos de Atenção
Existem várias ferramentas e técnicas úteis para a aplicação do 70:20:10 em uma organização. Destaco o Job Shadowing (observação próxima de outras pessoas), Role Modeling (observação de pessoas que servem como modelos), Blended Learning (aprendizagem multifacetada e mesclada), Storytelling (criação e análise de histórias organizacionais), Coaching e Mentoring, entre outras.
Independente da forma que se utilize esse modelo, o ideal é que um profissional consiga unir e combinar as formas de aprendizagem em uma proporção próxima aos 70+20+10, mas nem sempre isso é uma realidade. Em muitas organizações, a prioridade é a experiência (prática, perícia, habilidade) e acabam deixando de lado a teoria, embasamento técnico e o aprendizado pelo contato com outros. Ou seja, nunca teremos um profissional 100% ‘desenvolvido’ se pensarmos dessa forma.
De outra forma, a distribuição também não pode envolver temas diversos e não alinhados. Quando organizado dentro de um programa Lean Seis Sigma, estebecemos um senso de continuidade e uma coerência para o aprendizado, possibilitando real apropriação.
Outro ponto importante para observar, é que existem ciclos e graus de maturidade em cada função, então se esse nosso profissional que exercia um cargo de supervisão e agora passa a ocupar um cargo de gerência, todo conceito e teoria (10%), assim como as referências absorvidas (20%) e experiências conquistadas (70%), deverão ser recicladas/atualizadas e seguir nesse mesmo modelo de desenvolvimento na nova função.
Obviamente não devemos enxergar o 70:20:10 como um simples organizador de tarefas, e sim, uma estratégia de aprendizado para que a empresa se torne uma organização que aprende ou possibilitar que o programa de Lean Seis Sigma seja, de fato, um programa que de ensina seus participantes a serem melhores gestores e agentes de transformação.
Assim, não há como não pensar que a iniciativa de Lean Seis Sigma, além de ter foco no resultado e na melhoria dos processos, é uma alavanca fundamental, em qualquer organização, para a educação corporativa e, por isso, deve ser acompanhado e suportada pelas áreas responsáveis como Treinamento e Recursos Humanos.
Além disso, deve-se garantir que todos os elementos (capacitação, coaching, mentoring, workshops, condução do projeto) sejam acompanhados e estejam formalmente considerados dentro da iniciativa. Imaginar que o programa de Lean Seis Sigma será efetivo somente com foco em capacitação, sem as outras alavancas, não é só garantia que não haja o devido aprendizado bem como desconsidera que o principal ganho deva ser o resultado e entrega dos projetos.