
IATF 16949

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Neste artigo vou tratar de um assunto que tem despertado um grande interesse na cadeia automotiva nos últimos 2 meses: a publicação da IATF 16949:2016, que substitui a atual ISO/TS 16949:2009. O objetivo é compartilhar informações importantes e sensibilizar os profissionais da área da gestão da qualidade automotiva que o momento é de encarar o desafio e iniciar o quanto antes o processo de adequação de suas organizações, pois as mudanças são impactantes e o tempo é curto para que seja realizado o processo de transição.
Um breve histórico
A primeira publicação da ISO TS 16949 foi realizada em 1999, utilizando como base a ISO 9001:1994, adicionando requisitos a serem cumpridos pelos fornecedores da cadeia automotiva, eliminando a necessidade de múltiplas certificações como a QS-9000, VDA 6.1, EAQF e AVSQ.
Em 2002, passou por uma revisão para se adequar a nova estrutura da ISO 9001, versão 2000.
Em 2009, passou por uma nova revisão para incluir os requisitos da ISO 9001, versão 2008.
Cenário atual
Num momento onde globalmente o número de sites certificados ISO/TS 16949:2009 alcança a casa de mais de 66.000, distribuídos entre:
Ásia e Pacífico: 43.973
Europa: 11.820
América do Norte: 6.408
Oriente Médio: 1.719
Américas Central e do Sul: 1.591
África: 522
A nova IATF 16949 surge totalmente revisada e alinhada com o pensamento baseado no risco da nova ISO 9001:2015, buscando prevenir problemas antes que eles ocorram, através de:
- Um foco maior no desempenho operacional e no atendimento das métricas dos clientes.
- Da introdução de um número maior de requisitos específicos de clientes.
- E do incremento das auditorias como forma de identificar pontos fracos que podem afetar a performance de fornecedores e clientes.
A recente revisão foi mais profunda, pois, embora tenha mantido como base a ISO 9001, versão 2015, deixou de ser uma Technical Specification da ISO e passou a ser uma publicação exclusiva da IATF (International Automotive Task Force), sendo publicada como primeira edição.
A IATF 16949:2016 segue a nova estrutura adotada pela ISO para a publicação das normas de sistemas de gestão, chamada Anexo SL ou HLS (High Level Structure). Porém, a norma IATF 16949:2016 não traz os textos referentes a ISO 9001:2015 na sua redação, apenas faz referência a eles.
Esta nova estrutura modifica a anteriormente adotada, onde os requisitos eram organizados em 8 capítulos e utiliza agora 10 capítulos:
0 Introdução
1 Escopo
2 Referência Normativa
3 Termos e Definições
4 Contexto da Organização
5 Liderança
6 Planejamento
7 Apoio
8 Operação
9 Avaliação de Desempenho
10 Melhoria
Mudanças
Com a publicação da IATF 16949 em 1º de Outubro de 2016 e das Regras para Certificação, publicada em 1º de Novembro de 2016 foi dada a largada para que as empresas façam a transição dos seus sistemas de gestão. O momento agora é de conhecer o que mudou, planejar e colocar em prática o processo de adequação.
Na sequência, segue um overview sobre as principais mudanças da publicação IATF 16949: 2016 em relação a publicação ISO/TS 16949: 2016.
- Contexto da Organização
Escopo
Deixa claro que locais de suporte, no próprio site de fabricação ou remotos, devem fazer parte do escopo do SGQ, ex: centros de distribuição.
Requisitos específicos de clientes
Nesta versão além de deixar claro que os requisitos específicos de clientes devem ser avaliados e incluídos no escopo do SGQ, deixa claro também a diferença entre requisitos do cliente e requisitos específicos de clientes.
Conformidade de produtos e processos e segurança do produto
Deixa claro que para peças de serviço e serviços terceirizados todos os requisitos aplicáveis do cliente, estatutários e regulamentares devem ser assegurados pela organização, além de exigir processos documentados para a gestão de segurança do produto, relacionados ao controle dos produtos e processos de manufatura.
- Liderança
Responsabilidade corporativa
Nesta versão foram incluídos requisitos para políticas de responsabilidade corporativa, exs: antisuborno, código de conduta, ética, etc.
Eficácia e eficiência do processo
Neste requisito passa a ser mandatória a inclusão dos resultados da eficácia e eficiência dos processos de realização do produto e processos de suporte, como uma entrada para a análise crítica da direção.
Donos dos processos do SGQ, papéis, responsabilidades e autoridades
Deixa claro que a alta direção deve identificar e determinar os papéis e competências necessárias para os donos dos processos do SGQ, além de incluir esclarecimentos sobre a designação de pessoal com responsabilidade e autoridade para garantir o atendimento dos requisitos do cliente bem como a conformidade dos produtos fornecidos.
- Planejamento
Análise de risco e ação preventiva
Alinhada com a ISO 9001: 2015 a IATF 16949 determina requisitos complementares para abordar riscos, como por exemplo lições aprendidas com recall, retornos de campo, auditorias de produto, etc. Em contrapartida mantém o termo Ação Preventiva (retirado da ISO 9001: 2015) e deixa claro que ela deve ser utilizada para reduzir o impacto dos efeitos negativos do risco.
Planos de contingência
Nesta versão foram incluídos novos requisitos para os planos de contingência, exs: necessidade de testar os planos (conforme apropriado),além de determinar uma periodicidade obrigatória para análise crítica da sua adequação.
Planejamento dos objetivos da qualidade
Neste requisito foi definido o prazo mínimo obrigatório para análise e revisão dos objetivos e metas da qualidade pela alta direção.
- Apoio
Planejamento da planta, instalações e equipamentos
Nesta versão foram determinados novos requisitos para planejamento, tais como avaliações de viabilidade de manufatura e planejamento da capacidade, bem como a inclusão dos mesmos como entradas para a análise crítica da direção.
Estudos de MSA e registros de calibração e testes
Foram incluídos novos requisitos para o uso de métodos e critérios alternativos aos mencionados no Manual de Referência do MSA da AIAG, ex: registro de aceitação do cliente, bem como a necessidade de retenção de registros adicionais, tais como: calibração/ verificação de equipamentos e dispositivos de medição e testes de propriedade do fornecedor quando em uso no site da organização e verificação do software incorporado ao controle de produto e processo.
Laboratório externo
Este requisito foi revisado deixando mais claros os critérios de aceitação para uso de laboratórios externos aprovados pelo cliente, incluindo métodos para comprovação da capacidade do laboratório para realizar inspeções, testes ou calibrações.
Competência, conscientização, treinamento no posto de trabalho e motivação
Nesta versão a conscientização foi incluída no levantamento de necessidades de treinamento e foram definidos novos requisitos de competência para treinamento no posto de trabalho, para auditores do SGQ, auditores de processo, auditores de produto e auditores de segunda parte. Foram definidas também novas necessidades de informações documentadas para conscientização e motivação dos funcionários.
Documentação e registros do sistema de gestão da qualidade
Estes requisitos foram revisados, sendo que o Manual da Qualidade foi mantido como documento obrigatório para a IATF 16949, embora para a ISO 9001:2015 não seja mais obrigatório. Foram determinados prazos mínimos de retenção para alguns registros do sistema de gestão da qualidade.
Uma das mudanças mais importantes foi a exigência de uma matriz de correlação que demonstre claramente como os requisitos específicos do cliente são abordados dentro do sistema de gestão da qualidade da organização.
Especificações de engenharia
Foram incluídos novos requisitos de documentação e prazos para análise crítica, distribuição, implementação e modificações das especificações de engenharia.
- Operação
Planejamento e controle operacionais
Neste requisito foram incluídos novos tópicos para o planejamento e realização do produto, ex: requisitos logísticos.
Comunicação com o cliente
Neste requisito foi incluída a necessidade de habilidade da organização para comunicação verbal ou escrita na linguagem do cliente.
Determinação, análise crítica e viabilidade relativas a produtos, serviços e manufatura
Nesta versão algumas notas da versão anterior, passam a ser requisitos que devem ser determinados e analisados criticamente, exemplos: reciclagem e impacto ambiental.
Além disso foram determinados novos requisitos para documentação e abordagem ao realizar estas atividades.
Projeto e desenvolvimento de produtos e serviços
Nesta versão, foram incluídos novos requisitos e esclarecimentos para planejamento, entradas, monitoramento, saídas, aprovação e mudanças.
Alguns destes novos requisitos se referem a inclusão das tratativas de projeto e desenvolvimento para produtos com software embarcado.
Os novos esclarecimentos se referem as saídas e entradas de projeto utilizando DFSS (Design for Six Sigma), DFMA (Design for Manufacturing and Assembly), FTA (Fault Tree Analysis), GD&T (Geometric Dimensioning and Tolerancing).
Controle de processos, produtos e serviços providos externamente
Nota da versão anterior passou a ser requisito nesta versão, exemplificando os produtos e serviços que devem ser controlados.
Foram incluídos novos requisitos para seleção de fornecedores e extensão dos controles aplicados a processos terceirizados, ex.: análise de risco.
Foi definida a aplicabilidade dos requisitos do 8.4 para fornecedores “Directed-Buy”.
Foram determinados requisitos adicionais para a conformidade de produtos, processos e serviços adquiridos, que possuem requisitos estatutários e regulamentares como, também, para os que possuem software embarcado.
Desenvolvimento do sistema de gestão da qualidade do fornecedor
Nesta versão foram detalhados os passos necessários para a organização desenvolver o sistema de gestão da qualidade dos seus fornecedores.
Monitoramento e auditorias de segunda parte no fornecedor
Nesta versão foi incluída a necessidade de processo documentado para monitoramento dos fornecedores e foram determinados os requisitos para auditorias de segunda parte aplicadas nos fornecedores.
Plano de controle e trabalho padronizado
Foram incluídos novos requisitos para elaboração dos planos de controle, ex.: atualização com base em uma análise de risco, como também requisitos para trabalho padronizado, ex.: linguagem utilizada pelos usuários.
Verificação de set-ups e após shutdown
Nota da versão anterior passa a ser requisito nesta versão, ex.: retenção de peças padrão para comparação e foram determinados, também, novos requisitos para assegurar conformidade do produto após as paradas planejadas e não planejadas.
Manutenção produtiva total (TPM)
Foram determinados requisitos mínimos para implementação da TPM (Total Productive Maintenance), tais como: objetivos documentados para OEE (Overall Equipment Effectiveness), MTBF (Mean Time Between Failures) e MTTR (Mean Time To Repare).
Gestão de ferramental
Neste requisito foram incluídos no escopo de gestão os dispositivos para a produção, prestação de serviços e para material a granel.
Programação de produção, identificação, rastreabilidade e preservação
Nesta versão foi incluída a necessidade do uso de informações relevantes para a programação de produção, ex.: capacidade.
Foram determinados requisitos adicionais para identificação e rastreabilidade, ex.: nível de risco, como também para preservação, ex.: controle de contaminação.
Realimentação de informação de serviço e contrato de serviço com o cliente
Nesta versão foram incluídas novas áreas que devem ser informadas sobre preocupações de serviço, ex.: logística, como também deixa mais clara a responsabilidade sobre os contratos de serviços com os clientes.
Controle de mudanças
Neste requisito foi determinada a necessidade de processos documentados para controlar e reagir às mudanças que impactam a realização do produto, tais como: mudanças nos fornecedores, mudanças temporárias nos controles dos processos, etc.
Liberação de produtos e serviços, Inspeção de layout, teste funcional e Itens de aparência
Nesta versão fica mais clara a relação dos requisitos para liberação de produtos e serviços com plano de controle, como também a responsabilidade sobre a frequência das inspeções de layout. Foram incluídos novos requisitos para aprovação de aparência, ex: tecnologia háptica.
Verificação e aceitação da conformidade de produtos e serviços providos externamente e conformidade estatutária e regulamentar
Foram incluídos novos esclarecimentos sobre a confirmação dos requisitos estatutários e regulamentares aplicáveis a produtos e serviços providos externamente.
Autorização para concessão do cliente
Neste requisito foram esclarecidas as situações onde uma autorização do cliente é necessária antes da continuidade do processamento, ex: reuso de subcomponentes.
Controles de produtos não conformes, suspeitos, retrabalhados e reparados
Foram desdobrados e detalhados os requisitos para tratativas de produtos não conformes, suspeitos, retrabalhados e reparados.
Notificação ao cliente e disposição de produto não conforme
Nesta versão foram incluídos novos requisitos de comunicação e documentação necessária para a notificação ao cliente e disposição do produto não conforme.
- Avaliação de desempenho
Processos de monitoramento e medição da manufatura
Neste requisito foi incluída a necessidade de um processo de escalonamento quando os critérios de aceitação não são atendidos.
Identificação de ferramentas e aplicação dos conceitos de estatística
Nesta versão foi incluída a ligação das ferramentas estatísticas com outras ferramentas, ex.: DFMEA, como também ficou mais claro quem deve ter competência para uso das ferramentas estatísticas.
Satisfação do cliente
Neste requisito foram incluídos novos indicadores de desempenho para medir a satisfação dos clientes, ex.: recalls, como também critérios para priorização da melhoria da satisfação do cliente.
Auditorias do sistema de gestão da qualidade, processo de manufatura e produto
Nesta versão foram incluídos novos requisitos de escopo e periodicidade para as auditorias do sistema de gestão da qualidade, processo de manufatura e produto.
Análise crítica da direção
Neste requisito foi determinada a frequência mínima para as análises críticas da direção e novos tópicos que devem ser utilizados como entradas e saídas destas análises, tais como: avaliações de viabilidade de manufatura, planos de ação quando metas de desempenho não são atendidas, etc.
- Melhoria
Solução de problema e prova de erro
Nesta versão foram incluídos detalhes para aplicação da solução de problemas considerando o tipo e escala dos problemas encontrados, como também requisitos adicionais para os controles dos dispositivos a prova de erro.
Sistemas de gestão da garantia e análise das reclamações do cliente e falhas de campo
Nesta versão foram incluídos requisitos para tratativa de produtos em garantia e para tratativas de análise de reclamação e testes de produtos com software embarcado.
Melhoria contínua
Foram determinados requisitos adicionais para o processo de melhoria contínua da organização.
Prazos
No material compartilhado acima temos as principais mudanças que a IATF 16949: 2016 está trazendo, que somadas a adequação das mudanças da nova ISO 9001: 2015, torna necessário que as organizações tenham foco desde já no planejamento e execução dos trabalhos de transição dos seus sistemas de gestão da qualidade.
É importante lembrarmos que o tempo está correndo e o prazo para a transição é curto, pois embora as atuais certificações no padrão ISO/TS 16949: 2009 sejam válidas até 14 de Setembro de 2018, a partir de 01 de Outubro de 2017 não existe a possibilidade de auditorias iniciais, de manutenção, de recertificação ou de transferência, dentro do padrão ISO/TS 16949: 2009. Nestes casos, a partir de 01 de Outubro de 2017, só será aceito o padrão IATF 16949: 2016, ou seja muitas organizações tem menos de um ano pela frente para concluir a transição.
Enfim o momento é agora, preparem-se e vamos encarar o desafio!
Até breve!
Referências
IATF 16949: 2016 – 1ª Edição – 1 de Outubro de 2016 (AIAG, ANFIA, FIEV, SMMT, VDA).
Automotive QMS Update IATF 16949: 2016 – Setembro de 2016. (AIAG).
IATF 16949: 2016 Transition Strategy and Requirements – 3 de Outubro de 2016 (IATF).