4 mentiras que te contaram sobre Planejamento Estratégico
Dizem que mentiras repetidas mil vezes se tornam verdades. Alguns temas, infelizmente, são tão batidos e reforçados que deixam, inclusive, de serem questionados ou reavaliados adequadamente. No que tange o ambiente corporativo viram até mantras dos executivos e são desdobrados nas mais diversas áreas da organização, impedindo um olhar mais crítico ou sua adaptação conforme necessidade.
O desafio é que essas mentiras tipicamente são baseadas em uma meia-verdades. Seja por um conceito muito generalista, por algum caso particular de sucesso ou por teorias antiquadas. Sejamos práticos: são existe teoria no mundo da gestão que vale para todos as empresas, todas as áreas e em todas as situações. Dessa forma, vale ficarmos atentos.
Mentira 1: Se você é Ágil você não precisa de uma estratégia.
A forma de pensar Lean Startup difundida por Eric Ries e Steve Blank defende a criação de protótipos rápidos, projetados para validar suposições de mercado, e usa feedback dos clientes para desenvolvê-los muito mais rapidamente do que através de práticas de desenvolvimento mais tradicionais.
Por ser descrito como o pensamento enxuto aplicado ao processo empreendedor, tem por objetivo reduzir o desperdício e permite maior grau de adaptação gerando mudanças rápidas ao feedback do mercado e permitindo iteração e refinamentos constantes. Com isso, tem-se a percepção que existe uma dicotomia entre o planejamento estratégico e a validação sistemática.
Isso é um erro pois a discussão estratégica é anterior à discussão do método de desenvolvimento. A necessidade do desenvolvimento de um novo produto ou serviço para resolver determinada dor parte da estratégia. E o refinamento do produto antes do seu lançamento é só uma forma de validar o seu planejamento e entendimento de mercado antes do lançamento. Assim, a agilidade é uma forma de validar seu planejamento estratégico e adaptá-lo caso necessário.
Mentira 2: Estratégia é sobre o longo prazo
Em alguns setores e principalmente no passado, a concorrência, a legislação, as tecnologias e os mercados ficavam inalterados por décadas possibilitando maior capacidade de planejamento e a construção de um plano robusto e estável.
Hoje em dia, e cada vez mais, você precisará fazer essas mudanças muito rapidamente. Pensar em estratégia como algum tipo de compromisso de longo prazo pode torná-lo cego às necessidades do cliente e as condições de contorno do seu negócio. Estratégia diz respeito aos fundamentos de como o negócio funciona: as fontes de criação de valor, os direcionadores do custo para entregá-lo e avaliação da competição.
Seguir uma estratégia e ter constância de propósito não significa seguir um plano indefinidamente, mas realizar planejamento com profundidade, colhendo rápidos feedbacks. Indicadores de curto prazo e o crescimento do desenvolvimento de OKR são um sinal disso. Como diria Dwight D. Eisenhower: “Os planos não são nada. O planejamento é tudo”.
Mentira 3: Inovação significa mudar de estratégia o tempo todo
Parece que a Amazon e os gigantes da plataforma, como o Google e o Facebook, continuam a mudar de estratégia porque usam os enormes volumes de dinheiro que geram para inovar, trazendo novos produtos e serviços todos os anos. A inovação é facilmente confundida com uma mudança na direção estratégica e, às vezes, realmente desencadeia essa mudança.
Porém, no caso da Amazon e do resto das grandes empresas de tecnologia, a maioria dos novos produtos e serviços inovadores refletem uma estratégia única e consistente, que é familiar aos empresários desde pelo menos a década de 1960. A linha geral de pensamento dessas empresas é entender que os custos diminuem em um valor previsível conforme o aumento do volume acumulado. O conceito conhecido como Economia de Escala é aquela que organiza o processo produtivo de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores produtivos envolvidos no processo, procurando como resultado baixos custos de produção e o incremento de bens e serviços. O que mudou é que isso é possível ainda mais rapidamente e de forma muito mais potencializada em soluções e serviços digitais. Ou seja, não se trata de uma nova estratégia, somente uma nova forma de executá-la e com diferentes soluções.
Mentira 4: Não existe mais vantagem competitiva
Vantagem competitiva pode ser entendida como uma vantagem que uma empresa tem em relação aos seus concorrentes e descreve atributos que permitem uma organização superar os mesmos. Michael Porter definiu os dois tipos de vantagem competitiva que uma organização pode alcançar em relação a seus rivais: menor custo ou diferenciação. Esta vantagem deriva de atributos que permitem a uma organização superar a sua concorrência, tais como posição superior no mercado, habilidades ou recursos. As grandes empresas de tecnologia possuem tanto poder que parece impossível possuir vantagens competitivas sobre elas.
A verdade é que essas empresas não atuam somente em um quadrante, tendo baixo custo e diferenciação ao mesmo tempo. Sua precisa confiar em múltiplas vantagens, e não apenas em uma. E parte da razão pela qual a Amazon ou Alphabet dificilmente serão combatidas é que eles perceberam isso. Essas empresas não estão apostando em construir uma única grande muralha, mas em construir muitos outros muros menores.
Com isso, estando atento à essas quatro falácias, vale questionar meias verdades e avaliar de forma consistente o que precisa ser adaptado e ajustado para que o planejamento estratégico da sua empresa seja o melhor possível.