Afinal, o que é Lean?
O Lean é uma filosofia de gestão, não é ferramenta ou metodologia, apesar de que seus desdobramentos podem se tornar ferramentas e métodos com objetivos específicos. A filosofia Lean conecta aspectos estratégicos, táticos e operacionais na busca incessante de aumentar a percepção de valor para o cliente, reduzir desperdícios e promover uma cultura de melhoria contínua.
No Lean, o foco é otimizar as atividades que agregam valor. Afinal, o que não agrega valor agrega custo. Há uma batalha constante pelo pequeno ganho. Uma frase que pode resumir esse ímpeto é “hoje é melhor do que ontem, amanhã melhor do que hoje”. Essas batalhas são ganhas em pequena escala, ou como costumo dizer, no centavo, no centímetro e no segundo. É uma disciplina de melhorar todos os dias, mesmo que seja um pouco, e se inconformar mesmo com os pequenos defeitos. Não são ganhos extraordinários de curto prazo, mas uma visão de constância de propósito e ganhos diários incrementais.
Nessa filosofia de pequenos ganhos incrementais, chamada de Kaizen, a Toyota demorou quase 100 anos para se tornar a maior montadora do mundo. Desde o começo, a empresa na qual os princípios do Lean começaram só cresceu, até atingir um máximo de desempenho. É realmente uma visão de longo prazo.
Atualmente, o Lean ganhou outros nomes, conforme veremos adiante, mas continua imprescindível para qualquer empresa que queira aumentar o valor para seus clientes, reduzir desperdícios e melhorar continuamente. Diz Flávio Augusto Picchi, Presidente do Lean Institute Brasil, que o Lean em 2022 “terá a aplicação cada vez mais avançada e será uma alavanca para empresas alcançarem e sustentarem patamares mais elevados num período ainda de incertezas e desafios”.
Raízes do Lean
A semente do Lean foi plantada ainda no século XIX, quando Sakiichi Toyoda inventou para sua mãe um tear automático que interrompia a produção sempre que um fio se rompia, permitindo o conserto e evitando retrabalhos e desperdícios. O ano era 1896 e, além do tear automático, estava criado o conceito de Jidoka – automação com toque humano.
Ao longo da vida, Sakiichi inovou no mercado de teares, e sua visão empreendedora e inovadora foi perpetuada por seu filho, Kiichiro Toyoda. Ele percebeu que outra forma de evitar desperdícios era produzir o necessário, na hora certa e na quantidade exata, pensamento que seria conhecido como Just in Time.
Em 1937, Kiichiro passou a produzir exclusivamente motores à combustão, fundando a Toyota Motor Company. Em 1943, trouxe um engenheiro especialista em teares para sua empresa automobilística, e foi com Taiichi Ohno que surgiu o termo Toyota Production System (TPS), sustentado pelas filosofias que Kiichiro lhe mostrou – Jidoka e Just in Time.
Em seu livro “O Sistema Toyota de Produção”, Ohno consolidou e elaborou o TPS conforme a “Casa do TPS” acima, na qual:
- A meta é ter sempre maior qualidade, menor custo e lead time (tempo total de uma atividade) mais curto;
- O Just in Time é composto pelo fluxo contínuo de produção, o sistema puxado e o controle do takt time (“ritmo ideal” de produção);
- O Jidoka é composto pela necessidade de parar e notificar anormalidades e de separar os trabalhos humano e da máquina;
- Jidoka e Just in Time são sustentados pelo nivelamento da produção (Heijunka), trabalho padronizado e melhoria contínua que, por sua vez, são sustentados pela estabilidade.
A ocidentalização do TPS
O intercâmbio de conhecimento entre a Toyota e as indústrias americanas, como a Ford e a General Motors (GM), já existia nessa época, e se intensificou após a Segunda Guerra Mundial. A título de ajudar a reconstruir o país recém-destruído, as Estados Unidos enviaram engenheiros e matemáticos ao Japão, em especial, Joseph Juran e William Deming, dois dos grandes gurus da qualidade. Na prática, houve uma troca de conhecimento. Obviamente, uma filosofia que reduz desperdícios e aumenta a qualidade seria exportada facilmente para todo o mundo.
As indústrias americanas começaram a adotar o TPS dentro de uma realidade diferente, a mesclando com a produção em massa taylorista vigente à época e à realidade ocidental. Conceitos como Kaizen, Kanban e Poka Yoke se consolidaram nesse momento. Essa mistura de mentalidades ficou evidente na década de 70, quando o mundo enfrentou um período de escassez de petróleo e a necessidade de produzir de forma mais inteligente se tornou mais flagrante.
Em 1979, então, o Massachusetts Institute of Technology (MIT) lançou o International Motor Vehicle Program, programa que estudou as melhores práticas da produção em massa de automóveis e, desse estudo, saiu o livro “A Máquina que Mudou o Mundo”, de 1990. Mais de 100 anos após o tear automático de Sakiichi Toyoda, os pesquisadores James Womack, Daniel Jones e Daniel Roos traduziram o TPS para o que chamamos de Pensamento Enxuto, no inglês, Lean Thinking.
Assim como o TPS, o Lean também tem sua casa, baseada na filosofia japonesa e já trazendo as modificações fruto da ocidentalização. A “Casa do Lean” é um mapa mental simplificado do Lean, e pode ser assim interpretada:
- A meta continua a ter sempre maior qualidade, menor custo e lead time (tempo total de uma atividade) mais curto;
- O Just in Time passou a ser implementado junto com nivelamento da produção (Heijunka), e ambos são sustentados pela otimização de layout no chão-de-fábrica e dos tempos de setup, a programação da produção e a adoção de lotes com tamanho mínimo;
- O Jidoka foi expandido para uma Qualidade Incorporada, e a Melhoria Contínua foi promovida, sendo ambas sustentadas pela redução de desperdícios, resposta a defeitos e dispositivos à prova de falha (Poka Yoke);
- Um terceiro pilar foi incrementado, o envolvimento humano, sustentado por trabalho em equipe, trabalhadores multifuncionais, liderança em qualidade, motivação e responsabilidade descentralizada.
- Os três pilares são sustentados pela estabilidade e pela padronização, com manutenção de máquinas e equipamentos no chão-de-fábrica, trabalho padronizado em informações visuais.
Lean Thinking no Século XXI
Hoje, por definição, qualquer montadora usa os princípios do Lean. A Tesla, por exemplo, lançou o Cybertruck através de uma pre-order, ou seja, colocou à venda um veículo ainda em protótipo, antes mesmo de a fábrica ser construída! Isso com base em confiança e autoridade tecnológica. A produção dos mais de 1 milhão de veículos encomendados será 100% baseada na demanda, e não na capacidade. É um sistema de produção puxada e com a receita antecipada.
A Tesla é um exemplo de montadora, o Lean ultrapassou a indústria automobilística e ganhou vários outros terrenos, como a produção de aplicativos e sistemas de saúde. O Lean Thinking está ativo com força total e, toda vez que uma filosofia de gestão volta à luz, ela é revisitada, repaginada, colocada em novo contexto.
Há vários nomes que o Lean pode ganhar, como Pensamento Ágil, Lean Analytics, Lean Startup, Lean Health Care, Lean Office etc., mas a essência se mantém: aumento do valor ao cliente, redução de desperdícios e melhoria contínua.
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Bibliografia
COLOMBRINI, R.; História e Origem do Lean; Disponível em <https://blog.atosinovasaude.com/historia-e-origem-do-lean/>; Acesso em jan. 2022.
LEAN SIX SIGMA DEFINITION; International Motor Vehicle Program; Disponível em <https://www.leansixsigmadefinition.com/glossary/international-motor-vehicle-program/>; Acesso em jan. 2022.
OHNO, T.; O Sistema Toyota de Produção; Bookman: São Paulo, 1997.
PICCHI, F.; Em 2021, a gestão Lean foi indispensável; será ainda mais em 2022; Disponível em <https://www.lean.org.br/artigos/2345/em-2021-a-gestao-lean-foi-indispensavel-sera-ainda-mais-em-2022.aspx>; Acesso em jan. 2022.
SETECNET; O que é Lean?; Disponível em <https://youtu.be/o3yhAvTm0BQ>; Acesso em jan. 2022.
WOMACK, J.; JONES, D.; ROOS, D.; A Máquina que Mudou o Mundo; Elsevier: São Paulo, 1990.